Eucaristia como Ações de Graças

Eucaristia como Ações de Graças

Eu amo participar da Ceia do Senhor. Eu amo fazê-lo em reuniões pequenas e grandes. Eu amo quando o ambiente é de reflexão silenciosa ou de louvor barulhento. Eu amo receber a Santa Ceia ajoelhada ao altar, de pé com as mãos erguidas ou compartilhando, passando os elementos entre as pessoas reunidas. Eu amo a recepção aberta da Mesa para todos que estão famintos para conhecer a Cristo e receber Cristo nos lugares mais profundos de suas vidas. Entretanto, minha experiência não foi sempre assim.

Quando eu estava crescendo, minha igreja fazia a Santa Ceia uma vez a cada três meses. Eu lembro daqueles cultos sendo especialmente sombrios e muito diferentes da experiência cotidiana de nossas reuniões semanais. Como criança, eu não ansiava para tomar a Ceia e entendia o convite somente para os adultos. Porém, eu, com bastante inocência (praticamente), me servia de um suprimento inesperado de suco de uva na geladeira da igreja. Eu não fazia a conexão dos cultos de Ceia com esse glorioso suprimento de suco de uva Welch. Então, sem que meus pais soubessem, eu me servia regularmente, fazendo isso com uma alegria que matava a sede e era delicioso!

Levou um tempo para que eu passasse dos presentes temporários da geladeira da igreja para o entendimento e o desejo de desfrutar de presentes maiores oferecidos por Deus para o povo de Deus através da participação na Ceia. A mudança inicial aconteceu quando eu comecei a estudar no Seminário. Eu estava estudando numa escola de teologia que me forçava a ampliar meus horizontes, me desafiava e, às vezes, me perturbava. Lá, descobri encontros semanais para celebrar a Ceia do Senhor; estes tornaram-se um importante local de refúgio para mim e para outros. Foi durante esses cultos, em uma pausa dos necessários desafios mentais e emocionais da sala de aula, que a fé era afirmada e proclamada. Naqueles momentos, éramos convidados a falar como um povo, verbalizando: “Cristo morreu, Cristo ressuscitou, e Cristo voltará”. Éramos lembrados do grande amor de Deus, demonstrado pelos braços abertos de Jesus. Nós podíamos ouvir o convite de Jesus, que chamou Seus discípulos para se reunirem, lembrarem, darem graças, receberem e serem enviados. Essa reunião simples e semanal era um lugar onde a graça era soprada em mim no meio do deserto teológico.

O significado da palavra Eucaristia—ou em grego, Eucharisteo—traz consigo a suposição de que a refeição da Ceia é uma refeição de gratidão.[1] A festa da Ceia é semelhante às melhores experiências de comunhão à mesa que já conhecemos. Pense em uma reunião alegre onde você sentiu o profundo amor do anfitrião; você se sentou em uma mesa cheia de comida que seu corpo desejava e estava cercado por pessoas com as quais você se identificava. O aroma, o riso e a partilha da vida ecoam profundamente a festa da Comunhão de amor, renovação e profunda graça. Tipicamente, numa liturgia formal de Santa Ceia, o momento começa com as palavras “A Grande Ação de Graças”, que diz: “É bom e correto agradecer e louvar a Deus” [2]. Quer usemos uma linguagem formal ou informal, acredito que é importante fazer uma pausa e encontrar um momento para agradecer.

Ao verbalizarmos a nossa gratidão a Deus, o hiato nos dá a oportunidade de sairmos da correria da vida para refletirmos novamente sobre a amplitude e a profundidade do presente que estamos lembrando e recebendo. Este espaço para respirar, então, nos convida para receber a graça de Deus com corações gratos no meio de nossas preocupações presentes e ansiedades futuras (pessoal, familiar, comunitária ou mundial). Na Eucaristia, Deus nos encontra com Sua graça redentora, sustentadora e transformadora. À mesa da Comunhão, declaramos: “Ele é o nosso Deus com seus braços estendidos. Ele está convidando você para vir e ser renovado, restaurado, para ter sua história reescrita. Aqui está a grande história da redenção, na qual você é convidado a participar com a promessa certa de que o Reino de Deus virá”.

Também é vital para uma participação completa da alegria da Ceia a nossa confissão em relação as formas pelas quais nós “não temos amado a Deus com todo o nosso coração, mente e alma, e não temos amado o nosso próximo como a nós mesmos”.[3] Quando reconhecemos a verdadeira profundidade de nossa necessidade e recebemos a tão necessária graça, a nossa gratidão somente aumenta. Ao invés de chegarmos a Deus como o fariseu na parábola que ele agradece com um sentimento de plenitude de retidão, chegamos como o cobrador de impostos que reconhece sua necessidade de misericórdia (Lucas 18:9-14). Dar graças não é evitar o reconhecimento de verdades brutais nas nossas vidas e mundo. Ao invés disso, uma gratidão verdadeira nos convida a levar todas essas realidades para a cruz. Nossa transparência e confissão nos permite receber a festa espiritual da Ceia do Senhor com uma atitude e postura de profunda gratidão. Dentro desse profundo poço de constante renovação de gratidão, não somos simplesmente reafirmados no amor, na graça e na redenção de Deus, mas também somos recomissionados para vivermos no mundo e em nossas comunidades como um povo cheio do novo pela graça de Deus para praticar a justiça, amar a misericórdia e andar humildemente com o nosso Deus (Miqueias 6:8).

Como presbítera ordenada, às vezes eu sirvo a ceia para as pessoas. Durante esses momentos, eu acho que o compartilhar da graça de Deus é especialmente significativo considerando algumas das histórias na nossa congregação de alegria, dor, cura e enfermidade. Em todas as áreas onde eu não tenho respostas fáceis e lido com a sabedoria humana limitada, eu posso, em fé, oferecer esse meio da graça: “tomai e comei... e bebei, todos vós”. E eu sei que esse participar da Mesa foi verdadeiramente e, em última análise, suficiente. Em tais momentos, cheios de maravilha e mistério, geralmente eu guardo uma imagem na minha mente de Cristo enchendo os participantes com Sua presença, como água reabastecendo um andarilho no deserto. A graça de Deus alcança lugares onde as pessoas desejam desesperadamente conhecer cura, como também em lugares onde as pessoas podem nem saber que estão em necessidade.

Quando a Ceia é oferecida a mim, eu também sou alguém com sede para receber do corpo e do sangue de nosso Senhor Jesus Cristo.

Graça sobre graça é uma grande frase para descrever a Ceia. É para esta festa santa que eu corro em todas as estações da minha vida.  No evangelho de João, lemos sobre a vida sendo oferecida a nós: “Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade... todos recebemos da sua plenitude, graça sobre graça”. (João 1:14-16). Como não praticar uma gratidão profunda pelo sacramento ao qual Cristo nos chamou como seus discípulos? A grande alegria da refeição de graça sobre graça é capturada muito bem na abertura da letra do hino “Jubilosos te Adoramos”:

 “Jubilosos te adoramos, Deus da glória, Deus do amor.

Nosso coracão transborda em louvor a Ti, Senhor.

Rompe as nuvens da tristeza, do pecado e do temor.

Doador da eterna graça, enche-nos de Teu amor![4]

Mary Paul é Vice-Presidente de Formação e Vida Estudantil na Universidade N

 

[2] https://www.bcponline.org/

[3] Ibid.

[4] The Hymn of Joy; Henry van Dyke, 1907 (original em inglês). Em português, o hino se chama: Jubilosos te Adoramos.

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