Quando você olha, o que você vê?

Quando você olha, o que você vê?

Quando você olha, o que você vê?

“Meus irmãos, vocês não podem ter fé em nosso Senhor Jesus Cristo, o Senhor da glória, e ao mesmo tempo tratar as pessoas com parcialidade. Porque, se entrar na sinagoga de vocês um homem com anéis de ouro nos dedos, vestindo roupa luxuosa, e entrar também um pobre muito malvestido, e vocês derem um tratamento especial ao que está vestido com a roupa luxuosa, dizendo: ‘Você, sente-se aqui no lugar de honra’, e disserem ao pobre: ‘Você, fique em pé’ ou ‘Sente-se ali, abaixo do estrado dos meus pés’, será que vocês não estarão fazendo distinção entre vocês mesmos e julgando as pessoas com critérios errados?”

Tiago 2.1-4

Tiago está indignado com a possibilidade de um seguidor de Jesus agir com favoritismo. Ele faz uma conexão direta da fé com o acolhimento amoroso do ser humano, independente de suas condições econômicas e aparência.

Quando você olha, o que você vê? Se o nosso olhar é apressado, captamos somente o exterior. Não conseguimos entender o contexto, muito menos somos capazes de discernir as intenções de cada coração. Por que tratar melhor quem se apresenta de forma mais elegante e usa joias caras? É o desejo de recompensa? É o sentimento de que aquele tem algo a oferecer? Talvez o julguemos mais digno? Merecedor de ter o que tem? Ou nos sentimos menores, e aspiramos crescimento social que talvez essa proximidade pode nos trazer?

Jesus veio para o doente, para o aflito, para o excluído, para o desfavorecido. Tocou em leprosos, abraçou as crianças, exaltou a viúva pobre, deu voz às mulheres, amou e perdoou até as mais “pecadoras”, de acordo com o julgamento social.  O pobre, com roupas sujas, demonstra alguém vulnerável, que lida com escassez, que não tem o essencial para sua sobrevivência e precisa de suporte, precisa ser incluído e ter sua dignidade restaurada.

Os nossos relacionamentos com os nossos semelhantes demonstram o nível e a profundidade de nossa aliança com Deus. É amando uns aos outros que mostramos que somos seguidores de Cristo. Não enxergamos o coração, mas o comportamento revela o que tem dentro de nós. As comunidades cristãs não são ambientes que, necessariamente, transbordam de bons comportamentos o tempo todo. Elas ainda são locais cheios de pecadores, pessoas incompletas e em obras, carentes da ação contínua do Espírito Santo. Entretanto, elas são justamente o lugar onde a perversidade deve ser denunciada, combatida e tratada.

Tiago denuncia a discriminação social e econômica entre os crentes. O assunto só é abordado, porque precisa ser tratado. É fato! Contudo, não é momento de achar que esse é sempre o pecado do outro. É preciso olhar para dentro do próprio coração e discernir se temos favorecido pessoas pelo que elas aparentemente já conquistaram ou podem nos oferecer.

O verdadeiro amor não é egoísta, não maltrata, não busca seus próprios interesses. O verdadeiro amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. (1 Co 13).

Deus não nos chama para sermos juízes de causas alheias. Não podemos acalmar o nosso coração diante das desigualdades e injustiças do mundo recorrendo ao pensamento de que cada um merece a situação em que se encontra. Deus fala através do profeta Isaías que o verdadeiro jejum que o honra é ver um comportamento que alivia a carga dos empregados, que reparte o alimento com os famintos, que oferece abrigo aos que não tem casa, que dá roupa aos que precisam e não se esconde dos que carecem de ajuda (Isaías 58.6-8). Aqui está claro que Deus não está dizendo que eles têm o que merecem. Deus vê desequilíbrio social e espera que seu povo interfira nessa estrutura opressora e desigual.

Deus não espera que seu povo fique simplesmente e passivamente se abstendo do mal, mas deseja que sejamos proativos na prática do bem. Temos que ir ao encontro do necessitado e oferecer o que lhes falta: vestir o nu, alimentar o faminto, dar água a quem tem sede... o que precisar.  

Ao olhar, precisamos ver quem tem sido destituído da dignidade humana e sermos instrumentos de Deus de reconciliação. Precisamos poder dizer como o salmista ao Senhor: “Pois em ti está a fonte da vida; na tua luz, vemos a luz.” (Salmo 36.9).

Que ao olhar, vejamos como Deus vê, amemos como Deus ama e atuemos de forma relevante na inclusão de todos no Reino que já veio, mesmo que ainda não inteiramente. Favoritismo demonstra infidelidade a Jesus. Que sejamos como Cristo, sempre prontos para receber e amar as ovelhas perdidas, sem pastor, sem cuidado, sem direção e sem provisão.

Soli Deo Gloria

Ágatha Heap é pastora, professora, escritora e ministra ordenada pela Igreja do Nazareno. Ela tem formação em Ciências Sociais, Geografia, Teologia e Religião. É casada com Brian e tem três filhos: Lucas, Victoria e Gabriele.

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