Os Salmos em Adoração

Os Salmos em Adoração

“Luz! Dê-me Luz!’ era o clamor sem palavras da minha alma”.

A amada autora americana Helen Keller (1880-1968) perdeu sua visão e sua audição aos 19 meses de vida depois de uma enfermidade e viveu os primeiros 10 anos de sua vida sem nenhuma maneira significativa de comunicação. Mais tarde, ela escreveu as palavras acima ao refletir sobre o dom da comunicação dado a ela por uma professora fiel.

A professora de Helen, Anne Sullivan, a instruiu desenvolvendo uma linguagem de sinais com suas próprias mãos e pressionando-as nas mãos de Helen Keller. Antes dessas instruções, Helen Keller vivia sepultada numa escuridão sem visão e sem som. Graças a Deus, sessão após sessão, a professora trabalhou com ela até que sua conexão entre o sinal e o objeto fizesse sentido. Com o tempo, o dom da linguagem trouxe sentido à vida de Keller e ela, por sua vez, marcou a história com sua sabedoria. A linguagem iluminou sua existência e ela renasceu em um mundo onde podia expressar seus pensamentos mais íntimos.

Talvez descubramos algo sobre a nossa própria fé na educação de Helen Keller. Antes de chegar a Cristo, pessoas como você e eu vivíamos num tipo de escuridão, caminhando em círculos, para usar uma frase de Keller, nos clamores “sem palavras” de nossas almas. A imagem de Deus em cada um de nós, embora manchada pelo pecado, aponta que algo por dentro está errado, mas lutamos para articular esse mal-estar ao invés de tatear por alternativas insatisfatórias.

Esse mal-estar—essa escuridão—a expansão entre a santidade de Deus e a humanidade, não pode ser transposto sem a graça abundante de Deus. Louvado seja Deus, pois a luz do amor de Deus iluminou os nossos corações! Deus ofereceu essa graça através de Jesus Cristo e nos convida a voltar para casa. João 1:4 nos lembra: “Aquele que é a Palavra possuía a vida, e sua vida trouxe luz a todos” (NVT). Somos criados para termos um relacionamento correto com Deus, então, no final das contas, somos movidos para clamarmos a Deus também por redenção e, depois, ao tê-la recebido, em adoração. Assim como Helen Keller, sem linguagem, tanto as nossas necessidades mais profundas quanto as nossas alegrias mais esquisitas ficam sem ser expressadas.

Os Salmos nos oferecem um rico vocabulário para as nossas emoções não articuladas, nos dando permissão para levar o nosso verdadeiro ser diante de Deus tanto em alegria quanto em lamento. Muitas vezes somos surpreendidos pelos elogios crescentes e pela dor angustiante expressa nos Salmos, até percebermos que o Salmista está expondo a condição humana. Os Salmos revelam nossas vulnerabilidades e quando expostos, caímos na misericórdia de Deus. Essa humildade é um terreno fértil para as sementes da adoração. Em nossos melhores e piores dias, encontramos a linguagem da adoração nos Salmos.

Além disso, os Salmos oferecem uma linguagem de adoração para a igreja. Os judeus antigos apreciavam os Salmos como seu livro de adoração. Jesus e Seus seguidores, o apóstolo Paulo e a igreja primitiva em Atos, todos se voltaram para os Salmos como o livro de referência para suas reuniões. Ao longo da história, os vários livros de orações usados no culto e na devoção foram construídos em torno dos Salmos. E quem entre nós já não teve o coração elevado com um chamado à adoração lido nos Salmos entre os fiéis reunidos? Os Salmos nos oferecem um roteiro para a adoração na igreja. De que outra forma sabemos por onde começar? Como a linguagem de sinais impressa nas mãos de Helen Keller, Deus nos deu os Salmos para nos ajudar a aprender a dar voz à nossa adoração.

Os Salmos também pintam uma imagem de Deus que fica cada vez mais bela quanto mais nós o apreciamos. O livro de Henri Nouwen: A Volta do Filho Pródigo: A História de um Retorno para Casa, detalha a imersão de Nouwen na obra prima de Rembrandt: “O Retorno do Pródigo”. Quanto mais tempo Nouwen passava estudando a pintura, mais profundamente Deus revelava as profundidades do divino amor. Eu aprendi o Salmo 23 como um menininho de dez anos de idade em uma Escola Bíblica de Férias. Mesmo assim, ainda hoje, é uma espécie de andaime de adoração para minhas orações diárias. Como Nouwen, passei horas imerso neste salmo. Talvez você tenha tido uma experiência semelhante. O amor e a verdade de Deus tornam-se mais evidentes à medida que meditamos diariamente em cada frase. Nossos corações se enchem de adoração cada vez que oramos este salmo ou o ouvimos no contexto de um culto na igreja.

Os Salmos decrevem a nossa parceria no drama da redenção de Deus e da criação. Os Salmos declaram que Yahweh é o único e verdadeiro Deus apesar de deuses menores da cultura disputarem o título. Sob essa luz, encontramos o nosso lugar no universo também—somos criados por Deus para os propósitos de Deus. É fácil enxergar, então, que quando reconhecemos nosso Deus Criador e nos envolvemos no trabalho redentor de Deus em nossas próprias vidas através da salvação e no mundo ao nosso redor através do ministério, trazemos glória a Deus.

Podemos ficar vulneráveis por um momento? Nossas vidas diárias são cheias de pressões e atividades. O “barulho” literal e figurado em nossas rotinas podem facilmente ensurdecer os nossos corações para a ainda pequena voz de Deus. Por onde poderíamos começar a repelir essa escuridão invasora? Deus providenciou uma restauração espiritual nas palavras dos Salmos. Quando abraçamos esses textos inspirados, descobrimos que a Palavra de Deus pode refrescar nosso próprio ser.

Num mundo saturado com palavras—cantadas, em podcasts, em blogs, postadas, faladas e gritadas—o povo de Deus tem encontrado as palavras peculiares dos Salmos para inpirar sua adoração, transformando um mundo de clamores sem palavras de nossas almas em um louvor e adoração ao nosso Deus amoroso.

Sam Barber é superintendente distrital do distrito Centro Sul de Ohio.

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