Um Salvador Misericordioso
Todo ser humano é culpado diante de Deus, por causa de seu pecado e não pode fugir dessa culpa e condenação. Cada um de nós é destinado à morte, mas através de nossa fé na graciosa intervenção do Filho de Deus que tomou nossos pecados sobre Ele, podemos ser salvos. Na cruz, fomos resgatados, redimidos, libertos da escravidão do pecado.
Um dos aspectos mais difíceis de ser humano é confrontar nossas próprias faltas. A tendência inata de esconder o nosso pecado começou com os nossos primeiros pais. No Paraíso, Adão e Eva tentaram se esconder entre as árvores depois de sua queda. Eles estavam escondendo seus corpos com folhas da figueira. Depois disso, eles tentaram culpar um ao outro por seu pecado. O homem disse: “A mulher que Tu me deste, ela me deu do fruto e eu comi”. E a mulher respondeu: “a serpente me enganou e eu comi”.
A atitude de não assumir a própria culpa é muito comum e evidente em cada ser humano, até na primeira infância. As crianças frequentemente escondem suas faltas quando são pegas. O pecado dentro do coração humano é uma mancha difícil de aceitar. É fácil ver os erros de outra pessoa enquanto somos complacentes com os nossos. Como podemos nos livrar desse peso? Por mais que tentemos esconder nosso próprio pecado, nunca seremos capazes de nos livrar de nossa culpa.
A autojustificação leva algumas pessoas a tentar escapar da responsabilidade por seus próprios erros por meio de muitas linhas de raciocínio. Enquanto alguns escondem seus pecados por um período de tempo, os cristãos entendem que haverá um dia que todos os nossos pecados serão totalmente expostos diante do trono de Deus. Somente Deus pode oferecer a solução e a cura para o pecado, que é o perdão através da justificação na cruz.
De acordo com a Bíblia, justificação (em grego: dikaiosis) é o ato de absolver, perdoar ou justificar. É um termo forense usado em tribunais que ilustra Deus como o juiz de todos. Através da justificação, Deus perdoa completamente o pecado e lava de toda a culpa.
A base da justificação é o trabalho que Cristo fez na cruz, que foi perfeito, suprindo as exigências que o próprio Deus estabeleceu em Sua santidade. O preço foi o: “sangue precioso de Cristo, o Cordeiro de Deus, sem pecado nem mancha” (1 Pedro 1:19).
Além de apagar a nossa culpa e perdoar o nosso pecado, o trabalho feito por Cristo também nos traz de volta para o Pai. De acordo com William Barclay, “ser justificado é entrar num novo relacionamento com Deus, um relacionamento de amor e confiança e amizade, ao invés de distância e inimizade e medo”.[1]
É impossível negar que todos precisam do perdão de Deus. É por isso que Jesus Cristo veio a este mundo, para salvar pecadores. Em Seu ministério terreno, Jesus realizou muitos milagres: curou o cego, paralíticos, leprosos e pessoas atingidas por muitas doenças. Ele não simplesmente curou fisicamente muitas pessoas, mas Ele também fez declarações do tipo “a tua fé te salvou” (Lucas 7:50) e “teus pecados foram perdoados” (Mateus 9:2). Declarações como essa revelam uma autoridade que pertence somente a Deus. A justificação é um ato legal que somente Ele pode conceber. É o ato gracioso e soberano oferecido ao pecador, que não é digno nem merece tal favor divino.
Uma das passagens mais gloriosas do Evangelho é a cena na cruz—o ato completo de redenção que muda a condição espiritual do ser humano. De cada lado de Jesus, dois ladrões também foram crucificados. Jesus era inocente e não merecia estar na cruz, mas esses homens ao Seu lado, aparentemente, mereciam. Não há referências sobre os crimes específicos deles, mas morte por crucificação não era usada para pequenas infrações. Certamente, eles tinham cometido ofensas sérias. Inicialmente, ambos malfeitores se uniram à multidão insultando Jesus. Entretanto, enquanto o tempo passava e eles viam as reações de Cristo, um dos malfeitores reconheceu a justiça presente no Senhor Jesus, Ele implorou: “Senhor, lembra-Te de mim quando entrares no Teu Reino” (Lucas 23:42). Convencido pelo Espírito Santo, aquele homem tomou a decisão certa nos últimos momentos de sua vida.
Não deu tempo para esse homem ser batizado, para ir para a igreja nem fazer boas obras. A única coisa que ele fez foi se virar para a Pessoa certa. Ele estava sofrendo e sangrando ao lado do Salvador quando ele levantou sua voz e implorou: “Senhor, lembra-Te de mim”. Jesus respondeu: Eu lhe asseguro que hoje você estará comigo no paraíso” (Lucas 23:43).
O que aconteceu com aquele malfeitor nos momentos finais de sua vida? Ele foi justificado pelo Filho de Deus! Ele recebeu perdão por seus pecados e, de repente, sua condição mudou. Ele estava morto em seu pecado, no caminho para o inferno e, então, através da palavra de Cristo, seu destino voltou-se para o céu. Somente Deus pode justificar o nosso pecado—somente Jesus tem essa autoridade. Seu perdão para o pecador na cruz claramente mostrou o Seu papel como Redentor: “O cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29) e Seu papel como o “juiz dos vivos e dos mortos” (Atos 10:42; Atos 17:31; João 5:27).
A vida do homem pendurado ao lado de Jesus na cruz foi radicalmente transformada. Ainda hoje, aqueles que ouvem a Palavra de Deus são tocados pelo Espírito Santo. É um mistério impressionante. Qualquer pessoa que ouvir a Palavra de Deus pode experimentar essa convicção do Espírito Santo e pode se voltar para o Senhor.
Como pastor, eu já ouvi muitas expressões de fé daqueles que desejam ser batizados: “Eu decidi entregar minha vida completamente para Deus”; “Eu estou cansado de prejudicar as pessoas que me amam. A partir de agora eu quero servir a Deus”; “Eu gostaria de tomar um passo adiante em minha vida espiritual. Deus está falando comigo de diversas formas. Depois de ouvir a Palavra de Deus, eu tomei a minha decisão de seguir a Jesus Cristo”.
Através da ação graciosa de Deus, cada pessoa tem a oportunidade de receber esse grande presente e começar uma vida nova em Cristo.
Flavio Valvassoura é pastor titular da Igreja do Nazareno Central de Campinas, São Paulo, Brasil.
Holiness Today, Novembro/Dezembro de 2020
Textos de Fundo:
Wiley, H. Orton. Introdução à Teologia Cristã. Adaptado por Paul T. Culbertson. São Paulo: Casa Nazarena de Publicações, 1990.
Shedd, Russell. Escatologia do Novo Testamento. 3a Edição. São Paulo: Vida Nova, 2006.
[1] William Barclay, The New Daily Study Bible: The Letter to the Romans, Revised Edition, (Louisville: Westminster John Knox Press, 1975), 27. (Tradução livre)