Providência e Preveniente

Providência e Preveniente

Há uma diferença entre graça providencial e graça preveniente. A providência é como Deus provê o sustento e a provisão de sua criação.[1] Deus “vê” (Gn 22:8, 14) o que é necessário para sustentar o mundo e provê para as pessoas individualmente. Como a providência de Deus afeta a vida de cada pessoa é profundamente misterioso. Quando e onde e em qual família alguém nasce é uma questão de providência. Porque uma pessoa nasce numa família hindu na Índia em 1765, enquanto outra pessoa nasce numa família cristã no Canadá em 2012 são questões de providência. A providência de Deus carrega níveis variáveis de responsabilidade espiritual. Alguém que nasce numa família cristã será responsabilizado mais rigorosamente do que alguém nascido em um ambiente budista. Alguém que recebe a oportunidade de ouvir o evangelho por toda a sua vida será julgado de forma diferente de alguém que nunca ouviu o nome de Jesus.

A parábola de Jesus sobre o servo fiel e sensato lida com muito mais do que posses materiais; ela envolve mordomia da graça de Deus. “Mas aquele que não a conhece e faz algo errado será castigado com menos severidade. A quem muito foi dado, muito será pedido; e a quem muito foi confiado, ainda mais será exigido” (Lucas 12:48). Nem todos recebem uma oportunidade igual ou no mesmo nível para se estabelecer. Alguns recebem mais, alguns menos. Com o receber ‘mais’ vem uma exigência crescente para um retorno e uma resposta. Essas são questões da providência divina.

Se providência é onde Deus nos coloca, a ideia de preveniente seriam os caminhos multifacetados pelos quais Deus nos encontra. Todos recebem a mesma graça que chega antes da salvação. Mas as oportunidades de resposta diferem. Entretanto, Deus se estende para o alcance de todos, persistentemente e pacientemente. Isso distingue o cristianismo de outras religiões mundiais que ensinam que se os humanos primeiros se moverem na direção de Deus, Deus responderá. O cristianismo reverte a ordem; Deus sempre age primeiro, deste modo, ele possibilita a resposta. Deus inicia o bom trabalho de graça e paz. A redenção e a nova criação sempre começam com a iniciativa de Deus. Nada revela mais isso do que a convicção de que o Pai enviou Jesus Cristo ao mundo. Deus sempre age primeiro. O Espírito Santo desperta pessoas para a sua necessidade de salvação, as convence do pecado e aplica a expiação de Cristo como a resposta delas a fé. Para João Wesley, o despertamento espiritual é mais do que mera consciência.

Não há homem, a menos que tenha apagado o Espírito, que esteja totalmente desprovido da graça de Deus. Nenhum homem vivo é inteiramente destituído do que é vulgarmente chamado de consciência natural. Todo homem tem alguma medida dessa luz... que ilumina todo homem que vem ao mundo. E cada um... sente-se mais ou menos inquieto quando age contrariamente à luz de sua própria consciência. Então, ninguém peca porque não tem graça, mas porque não usa a graça que tem.[2]

Uma consciência inquieta, uma crescente consciência de certo e errado, e o despertar da consciência espiritual são dádivas graciosas de Deus para todos. Essa confiança tem implicações importantes para o evangelismo no espírito wesleyano.

David Busic é um superintendente geral na Igreja do Nazarneo.

Nota: Esse texto é um trecho chamado “Providence and Prevenience,” de um capítulo de The Grace That Goes Before: Prevenient Grace in the Wesleyan Tradition. Usado com permissão da The Foundry Publishing. Tradução livre.

Notas finais

 

[1] A palavra providência vem de duas palavras latinas: pro, que significa “adiante”, ou “em nome de”; e vide, que significa “ver”. Às vezes, providência é diferenciada em duas categorias de “providência geral”, ou o cuidado de Deus pelo universo, e “providência especial”, a intervenção de Deus na vida das pessoas.

[2] John Wesley, The Works of the Rev. John Wesley (Kansas City, MO: Nazarene Publishing House, n.d.; and Grand Rapids, MI: Zondervan Publishing House, 1958, concurrent editions), VI, 512.

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