Destaque de Gênero Literário: Salmos Reais

Destaque de Gênero Literário: Salmos Reais

Aproximadamente vinte dos 150 Salmos na Bíblia discursam sobre a realeza. O acadêmico alemão Hermann Gunkel (1862–1932) identificou dez Salmos Reais (Salmos 2, 18, 20, 21, 45, 72, 101, 110, 132 e 144). Além desses, os Salmos 93–99 dão uma atenção especial para Deus como rei. A palavra chave em muitos desses salmos é “ungido”, em hebraico meshiach. Essa palavra mais tarde seria pronunciada como messiah. Dez das 37 vezes que meshiach aparece no Antigo Testamento são nesses salmos: 2:2; 18:50; 20:6; 28:8; 84:9; 89:38, 51; 105:15; 132:10, 17. Esses salmos se sobrepõem a muitos que Gunkel identificou.

No contexto cultural mais amplo do antigo Oriente Próximo, reis e rainhas eram frequentemente considerados filhos e filhas de deuses, especialmente do deus ou da deusa chefe. No Egito, por exemplo, o rei era considerado uma encarnação de deus. O Israel Antigo também acreditou numa forte conexão entre Yahweh e o rei terreno, mas geralmente eles não chegavam tão longe quanto outras nações. Ou seja, o Deus de Israel foi escolhido por Yahweh, mas ele não era em si Yahweh. No Antigo Testamento, a pessoa pode ver o desenvolvimento de como Israel enxergava os reis na maior parte das coleções históricas (de Josué até 2 Reis; 1–2 Crônicas), porém mais importante nos Salmos Reais.

Os Salmos Reais e o termo “ungido” se referiam exclusivamente a humanos, este último principalmente a reis ou profetas israelitas, com uma notável exceção (Isaías 45:1). As aparições dessa palavra em 1–2 Samuel e nos Salmos mostram duas ideias principais. Primeiro, o ungido de Deus merece respeito. Várias vezes em 1–2 Samuel, Davi (que seria, ele mesmo, ungido) se recusa a tirar vantagem do Rei Saul, porque Saul era ungido de Deus (1 Samuel 24:10 e 26:23). Segundo, o ungido de Deus vive sob a proteção de Deus. Isso quer dizer que ninguém deveria tentar atacar o ungido de Deus (Salmo 2:2 e 84:9).

Depois, a reinterpretação cristã desses Salmos compreensivelmente encontrou muita inspiração nos Salmos Reais. Depois de tudo, Jesus foi chamado de O Ungido (Messias; Grego “Christos;” Português “Cristo”). Em particular, o Novo Testamento se refere ao Salmo 2 com bastante frequência. O Salmo 2:7 cita Deus falando ao rei: “O Senhor me disse: ‘Você é meu filho; hoje eu o gerei” (NVT). Os Evangelhos relatam Deus dizendo para Jesus algo muito parecido quando Ele sai das águas do batismo: “Você é meu Filho amado, que me dá grande alegria" (Marcos 1:11; Lucas 3:22).

Mitchel Modine é presbítero ordenado da Igreja do Nazareno. Ele tem ensinado Antigo Testamento no Seminário Nazareno da Ásia-Pacífico desde 2008.

 

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