Tão perto e ao mesmo tempo tão longe...
“Mas Jesus lhes disse: — Vocês não sabem o que estão pedindo. Será que podem beber o cálice que eu bebo ou receber o batismo com que eu sou batizado? Eles responderam: — Podemos. Então Jesus lhes disse: — Vocês beberão o cálice que eu bebo e receberão o batismo com que eu sou batizado.”
Marcos 10:38,39
O que realmente queremos? O que esperamos quando nos aproximamos de Cristo? Aqui temos dois discípulos que estavam caminhando com Jesus e vendo a forma sacrificial com a qual seu mestre vivia e se disponibilizava para ir ao encontro da necessidade dos outros em toda oportunidade. Eles ouviram ensinamentos importantes e Jesus estava revelando o que iria lhe acontecer.
O Filho do Homem seria maltratado e condenado a morte. Tudo isso foi dito com clareza. Ele também falou de sua ressurreição. Não vemos registro de compreensão da mensagem. Não há perguntas sobre isso. Não há pedidos de esclarecimento. Na sequência, quem sabe motivados pela ideia da ressurreição e imaginando que em tal momento Jesus se sentaria em algum trono, talvez humano, talvez já eterno, Tiago e João pedem status, posições de autoridade e favoritismo. Eles desejam glória.
Jesus é paciente. Não reclama da notória insensibilidade, não aponta o egoísmo e a falta de empatia. Jesus olha para eles e percebe que estavam tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe!
A reação de Jesus demonstra um coração compassivo que vê no pedido de seus discípulos próximos uma ignorância, talvez até uma apatia em relação a jornada que seu mestre ainda traçaria. Além disso, eles não haviam entendido que o Reino de Jesus não é desse mundo nem como esse mundo concebe seus reinos. Eles não enxergaram que Jesus não queria fama e sucesso. Eles também não perceberam como Jesus amava a todos, e eles não consideraram que não deveriam nem mereciam ter lugar especial ao lado de Jesus.
Jesus declara que eles não sabiam o que pediam, porque se Jesus dissesse ‘sim’ ao seu pedido, eles teriam que beber o cálice da morte e serem pendurados no madeiro. O cálice pode se referir a angústia e muitos sofrimentos internos; o batismo, aos sofrimentos externos, perseguição e aflição. Apesar disso, Jesus consegue enxergar que chegaria o dia que eles teriam que enfrentar o mesmo cálice e batismo, mas não era o que eles realmente queriam naquele momento.
Como é possível estar tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe? Na jornada do discipulado, eles ainda não haviam experimentado uma entrega total. Jesus era interessante, empolgante, instigante... e parecia que conquistaria todo o povo graças ao seu carisma e milagres. Alguém aparentemente bom para se estar perto.
Mas a proximidade não era suficiente, como ainda não é. Estar perto não é suficiente para uma real transformação. É preciso renúncia, arrependimento, confissão de pecados e entrega total. O grão de trigo teria que morrer para produzir frutos (Jo 12.24). Seus discípulos precisariam fazer o mesmo, “Pois quem quiser salvar a sua vidaa perderá; e quem perder a vida por minha causa e por causa do evangelho, esse a salvará.” (Marcos 8:35).
A mensagem do Evangelho pode nos agradar. A consciência da existência de Deus e até a crença na divindade de Cristo pode ter a nossa aprovação. Entretanto, o caráter de Cristo e os atributos de Deus só são impressos e derramados sobre aqueles que se rendem e se entregam totalmente ao Pai, confessando toda a vida, sacrifício e ressurreição de Cristo.
O nosso coração deve pesar pelas mesmas coisas que o coração de Jesus pesava e pesaria. Nossos olhos têm que enxergar cada situação e circunstância como Cristo enxergaria. Nossos ouvidos precisam ouvir e discernir a voz do Bom Pastor para não nos desviarmos do caminho, e precisamos de sabedoria de Cristo para discernirmos o que realmente devemos ouvir. As nossas mãos devem ser usadas para servir como Jesus serviria e os nossos pés devem nos levar para onde Jesus nos levaria.
Importa que Ele cresça, sempre, e que nosso orgulho, arrogância e desejo de glória diminuam. Que Jesus realmente seja o Rei e Senhor de nossas vidas e que nos alegremos de sermos chamados seus amigos, companheiros de caminhada, sem nenhuma necessidade de honra, assento especial e fama. Que não nos conformemos em estar perto, mas que Jesus habite em nós através de Seu Espírito, nos moldando à Sua imagem e semelhança e se manifestando através de nós.
Soli Deo Gloria
Ágatha Heap é pastora, professora, escritora e ministra ordenada pela Igreja do Nazareno. Ela tem formação em Ciências Sociais, Geografia, Teologia e Religião. É casada com Brian e tem três filhos: Lucas, Victoria e Gabriele.