Domínio Próprio

Domínio Próprio

Domínio Próprio

A ironia não passou despercebida por mim que alguém que tem vivido a vida inteira o efeito sanfona de dietas fosse convidado para escrever este artigo sobre domínio próprio. Por alguns momentos, eu me perguntei se Holiness Today tinha decidido se tornar uma revista de sátira. Mesmo eu nunca tendo me visto como um glutão que come demais, eu sou uma prova viva de que comer umas duas centenas de calorias extras além do que você queima a cada dia, resultará quase 10 quilos em um ano. Pare de fazer exercícios e curta um prato italiano com batatas fritas—mesmo que ocasionalmente—e você vai juntar esses quase 10 muito mais rápido!

Seja a questão se exercitar mais e comer menos, poupar mais e gastar menos, trabalhar mais e brincar menos, ouvir mais e falar menos ou dar mais e pegar menos, nosso domínio próprio ou a sua falta se tornará conhecido de inúmeras maneiras ao longo de nossas vidas. A maioria de nós somos encorajados desde bem novos a adiar a gratificação e subjugar o desejo pelas coisas que queremos agora pela promessa de coisas mais valiosas que desejaremos mais tarde. 

Quando minhas filhas eram bem jovens, elas tinham uma loja favorita no shopping. Sempre que elas tinham um dinheirinho para gastar, aquela loja específica era o destino da escolha. Eu fiquei um pouco triste por elas desperdiçarem dinheiro em itens que seriam mais divertidos comprar do que possuir. Era questão de centavos, mas pequenos comportamentos se tornam grandes hábitos com o tempo. Eu finalmente fiz um acordo com elas. Eu só as levaria para essa loja se elas aceitassem chamá-la pelo nome apropriado: “lixo barato que nos impede de economizar para as coisas boas”. 

Domínio próprio não é uma virtude unicamente cristã. Os filósofos gregos da Antiguidade falaram mais de domínio próprio do que os autores bíblicos e consideravam que ele era o maior guardião da liberdade, que era comumente entendida como o pináculo da busca humana. O domínio próprio é necessário para auto-soberania, mas o cristianismo não está preocupado com auto-soberania; ele está preocupado com Jesus sendo o Senhor de tudo. 

O domínio próprio, listado em Gálatas 5.23, é um aspecto do caráter que João Wesley insistia ser um fruto do Espírito singular. As qualidades que formam o fruto do Espírito não são auto-iniciadas, mas são o resultado do trabalho do Espírito na vida de alguém e constitui juntamente a maior prova da santificação de alguém. Wesley insistia que quando essa “constelação de graças” se “une na alma do crente, isso é perfeição cristã”.[1]

Virtude não é algo que Deus exige dos cristãos; virtude é algo que Deus nos promete. O domínio próprio ou qualquer outro aspecto do fruto do Espírito não é uma performance a ser aperfeiçoada, mas uma presença a ser praticada. Onde o Espírito de Deus está consistentemente presente e tem acesso irrestrito, as qualidades do Deus trino são bem colocadas no solo da nossa alma e se tornam marcas distintivas de nossa identidade. 

Quando nos vemos falhando em qualquer aspecto do fruto do Espírito, o nosso desafio não é como melhorar no alcance de uma virtude em particular, mas em como melhorar a prática do Espírito. Quando me falta de domínio próprio, é um aviso antecipado de que eu não estou dependendo da presença do Espírito. 

A falta de domínio próprio se manifesta de maneiras diferentes em pessoas diferentes. Para alguns, ela é a propensão à raiva ou violência; para outros, é luxúria e tentação sexual; e para muitos como eu, é se exercitar muito pouco e comer muito. Estou falando que é tão sério comer muito como praticar imoralidade sexual ou atacar com raiva? Eu não sei. Eu sei que Paulo diz, e Wesley ecoa, que todas essas coisas têm a mesma causa espiritual. 

Em minhas muitas tentativas de perder um pouco de peso de uma vez por todas, eu tenho aprendido algumas lições. Uma delas é que se eu me encher de coisas boas primeiro, é muito mais fácil dizer não para as coisas ruins. Se eu ficar muito vazio, praticamente qualquer coisa que encha será bem-vinda. 

Esse não é o segredo de uma vida cheia do Espírito? Não é disso que trata os meios da graça de João Wesley? Quando nos enchemos do Espírito cedo e com frequência, ficamos muito menos propensos a nos contentar com qualquer uma das muitas alternativas baratas do inimigo.

Ao dizer sim primeiro e sempre para a presença e sugestões do Espírito Santo, eu sou liberado de queimar toda a minha energia debatendo escolhas que já deveriam ter sido resolvidas há muito tempo. Além disso, toda essa energia fica disponível para explorar as possibilidades crescentes de buscar cumprir o meu potencial do Reino nesta vida. Dizer não ao pecado e aos instintos mais básicos da condição humana será imensamente difícil apenas enquanto dizer sim ainda for uma opção.   

Scott Sherwood é presidente do Nazarene Bible College.

 

 

[1] John Wesley, The Works of John Wesley, Third Edition, vol. 6 (London: Wesleyan Methodist Book Room, 1872), 413–414.

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